Promoção de Natal

27 de dez. de 2009

Templo e Sacrário

  "O homem é um Templo, a mulher um Sacrário: 
ante o Templo, o descobrimos
 ante o Sacrário, ajoelhamos-nos..."
Victor Hugo

   Feliz Ano Novo!!!!

14 de dez. de 2009

Caled (título provisório)

Para nossos amigos, colocamos uma pequena parte de nosso segundo livro, quase terminado.



As nuvens cobriram o céu e devoraram o brilho da lua cheia. O vento do norte vibrou num som contínuo e crescente, fazendo com que ele puxasse as rédeas do animal, e olhasse para o fim da curva sinuosa que se descortinara através da vegetação intensa. Seu coração disparou frente à claridade inusitada que vislumbrou perto do vilarejo localizado ao pé da montanha. Então, uma voz tão suave quanto desesperada misturou-se ao lamento dos sons que invadiam seus ouvidos.
- Me ajude... por favor, preciso de você...! Venha até mim e me tire daqui! - A estranha súplica sussurrada dominava seus sentidos.
- Quem é você, que penetrou em minha mente?
- O fogo está aumentando, não vou suportar mais...
Aquilo não poderia estar acontecendo com ele. Sua vontade era ignorar o apelo, mas seu instinto o obrigava a prosseguir. Caled suspirou, e fez o que precisava. Indo em direção ao clarão, esporeou seu cavalo, lançando-se contra o vento com uma força sobrenatural.
- Aguente firme, estou a caminho!

Os tons acobreados da fogueira turvavam sua visão, e gotas de suor brotavam em suas têmporas. Enquanto galopava em desvario, invocou aos deuses que amenizassem a força ígnea que a maltratava.

A magia da mulher que implora pela vida uniu-se à minha. E com a força que pulsa em meu peito, rogo aos céus a sua proteção”.

Fortes pingos começaram a cair sobre ele, e uma espessa cortina de água desabou. O estreito caminho de terra batida tornou-se escorregadio, exigindo maior destreza na descida íngreme que o conduziria ao seu destino.

24 de nov. de 2009

A MAGIA DO AMULETO

"Uma obra prima escrita com alma e com a essência de um verdadeiro escritor romancista." – Rhaysa Kiltts



A MAGIA DO AMULETO
AUTORAS: Cristina Brandão e Márcia Figueiredo
EDITORA: Baraúna


Na Amazônia do século XVII uma aldeia construída por mulheres é invadida por conquistadores espanhóis.

Aprisionados, eles vêem seu destino entrelaçado ao das guerreiras.
Com a liberdade, seus antigos valores serão questionados e suas vidas sofrerão uma profunda mudança.

O tempo passará... Batalhas serão travadas, a morte se espalhará, culturas desaparecerão.

Mas o caminha da devastação perderá o sentido para quem se deixar envolver pela Magia do Amuleto.

O que senti ao ler A Magia do Amuleto:

Adorei o livro! Derramei lágrimas já no prólogo e só larguei quando terminei. Confesso que comecei a ler meio ressabiada, já que não curto muito romances ambientados aqui pelas paragens do Brasil , mas, confesso que, esse livro surpreendeu... Diferente de tudo que já devorei nos últimos anos!

Queridas Márcia e Cris, espero um dia criar coragem e sair da gaveta lançando um dos meus livros para que possa presenteá-las também e podermos trocar idéias de escritora para escritora.

Parabéns pelo belíssimo trabalho!

Beijão.

Rhaysa Kiltts.

P.S.: Ganhei esse belo exemplar das escritoras, que são minhas amigas, e posso dizer que tenho em mãos um primeiro livro, de uma primeira edição e autografado. Babem!

Se você quiser adquirir essa obra acesse os seguintes links e fale diretamente com as autoras:


www.romancesparasonhar.blogspot.com
www.surtadascomx.blogspot.com



15 de nov. de 2009

Tecelã dos Sonhos



Com o fio
dos momentos...
formo um novelo.
Transpassando-o na agulha no tempo,
desenho os resquícios nascidos do esquecimento,
no tear da alma...
Conspiro com a saudade,
e vai surgindo
uma tela de memórias
e sentimentos...
(borboletas transformando
palavras em versos)



Tecelã dos Sonhos

7 de nov. de 2009

Rudá






Rudá havia se deixado dominar pelo ódio, após a conversa que tivera com Caia. Então, dirigira-se com firmeza até Yana, agarrando seu braço...
- O que está fazendo, largue-me!
As sobrancelhas dele se arquearam, dando a seu rosto uma aparência demoníca.
- Cale-se e me obedeça! Venha comigo em silêncio...

28 de out. de 2009

A Sangue e Fogo - Pablo Neruda


Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

19 de out. de 2009

Isadora


  A escuridão da noite caía sobre o vilarejo de Feliz Lusitânia. Rodrigo se sentiu incomodado ante a perspectiva do confronto com o majestoso rio-mar, e o seu sono foi agitado, recheado de sonhos indecifráveis.  Algo lhe dizia que não deveria ter ficado ali. Olhando em volta, admirou o conforto do quarto, com cortinas que combinavam com os lençóis da cama onde dormira. Na parede ao lado, uma bela pintura retratava o corpo nu de uma mulher.  Num canto, sobre a mesa, uma jarra de porcelana pintada e uma bacia para se lavar. Em frente à cama, uma cômoda com um espelho apoiado sobre ela, e na cadeira a sua frente, um amontoado de roupas jogadas no frenesi do desejo. Que noite! Então ele se virou, e percebeu a pequena figura feminina que dormia com um sorriso nos lábios. Seus longos cabelos dourados se encaracolavam e cobriam parte dos seios fartos, e sua pele acetinada era um eterno convite ao deleite. Ele cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça de um lado para o outro, tentando apagar da memória a fraqueza que tinha por aquela mulher, pois sempre que ia ali acabava em seus braços. Por fim, seus lábios se apertaram num sorriso debochado e silencioso, e ele levantou-se devagar para não acordá-la.

  -Psiiiiiiiiiiu!  Aonde o meu garanhão pensa que vai? - Isadora juntou suas mãos em torno do braço musculoso e o puxou de volta para a cama. - Está me deixando aqui sozinha? Eu quero você uma vez mais... 

  -Quer mesmo? Cuidado que você pode se arrepender... 

  -Que nada! Volte aqui que agora é por minha conta! 

   Com uma sonora gargalhada, Rodrigo jogou-se sobre ela, e Isadora passou as pernas ao seu redor, fazendo com que ele esquecesse as preocupações e afastasse do peito a opressão que sentia há um momento atrás.

   

   Algum tempo depois, exausta e sonolenta, ela saboreava a visão do corpo de Rodrigo, que parecia ter adormecido. Mas ele não adormecera. Na verdade, dedicava seus pensamentos a uma outra mulher.  Maria Antônia... Há  anos atrás se entregara de corpo e alma a ela, mas fora deixado de lado, trocado por um importante fidalgo português. 

  -Traidora! Vil sedutora... Como posso ainda estar ligado a ela...? - praguejou baixo, virando-se de lado.

12 de out. de 2009

Blogagem Coletiva - Vida de Escritor - Clarice Lispector


Clarice Lispector nasceu a 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, Ucrânia. Recém-nascida veio com os pais, em 1921, para Maceió. Em 1924, mudou-se com a família para Recife e, em 1935, estavam no Rio de Janeiro. Em 1943, tornou-se aluna da Faculdade de Direito. Nesse período escreveu seu primeiro romance, "Perto do Coração Selvagem". Casou-se com o embaixador Maury Gurgel Valente. A seguir, morou em Nápoles, Berna, Torquay (Inglaterra) e Washington.

Em 1959, separou-se do marido e fixou residência no Rio de Janeiro. A partir daí, colaborou para a revista "Senhor", fez entrevistas para a revista "Manchete", colaborou em colunas para o "Jornal da Tarde", "Correio da Manhã" e, anos depois, para o "Jornal do Brasil", além de manter a coluna "Só para mulheres", no "Diário da Noite".

Em 1962, recebeu o prêmio "Carmem Dolores" pelo romance "A Maçã no Escuro". Em 1967, recebeu o prêmio "Calunga", da Companhia Nacional da Criança pela publicação de "O Mistério do Coelho Pensante". Em setembro, desse mesmo ano, provoca, acidentalmente, um incêndio em seu apartamento, queimando gravemente sua mão direita.

Em 1968, junto com outros intelectuais, participou de uma manifestação contra a ditadura militar. Em 1976, recebeu o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pelo conjunto de sua obra. Em 1977, publicou seu último livro, "A Hora da Estrela". Faleceu no dia 9 de dezembro desse mesmo ano, devido a um câncer no útero.

PRINCIPAIS OBRAS
Romances
Perto do Coração Selvagem (1943); O Lustre (1946); A Cidade Sitiada (1949); A Mação no Escuro (1961); A Paixão Segundo GH (1964); Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969); Água Viva (1973); A Hora da Estrela (1977).

Contos
Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A Legião Estrangeira (1964), contos e crônicas; Felicidade Clandestina (1971); A Imitação da Rosa (1973); A Via Crucis do Corpo (1974); Onde Estivestes de Noite? (1974); A Bela e a Fera (1979).

Crônicas e entrevistas
De Corpo Inteiro (1975), entrevista; Visão do Esplendor (1975) crônicas; A Descoberta do Mundo (1984) crônicas.

Infantil
O Mistério do Coelho Pensante (1967); A Mulher que Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura (1973); Quase de Verdade (1978)
Fonte: www.nilc.icmc.usp.br


Quando falava, pensavam que Clarice Lispector era estrangeira. E ela, que é uma aurora em nossa literatura, tinha muita dificuldade em pronunciar essa bela palavra. "A minha primeira língua foi o português. Se eu falo russo? Não, não absolutamente.( ...) eu tenho a língua presa. (...) algumas pessoas me perguntavam se eu era francesa, por causa desses meus erres." (Entrevista)

A brasileira Clarice, que só por acaso nasceu em uma cidadezinha da Ucrânia, dominava o inglês e o francês, mas só escreveu em português, a sua, a nossa língua materna e, que se saiba, nunca falou iídiche ou hebraico. Uma vez alfabetizada, tornou-se logo uma leitora voraz.
"Quando eu aprendi a ler e a escrever, eu devorava os livros! Eu pensava que livro é como árvore, é como bicho: coisa que nasce! Não descobria que era um autor! Lá pelas tantas, eu descobri que era um autor! Aí disse: Eu também quero”. ( Entrevista)

Sua carreira começa "Perto do Coração Selvagem", título jamais desmentido ao longo dos outros romances, dos contos e das histórias infantis, ou de todas as crônicas. Com seus olhos felinos abertos de soslaio sobre o mundo, Clarice Lispector permaneceu sempre perto do coração da vida, selvagem como a natureza agreste de sua infância em Pernambuco, diferente, inaugural e transgressora, se autocriando e autodevorando como um sol que ilumina enquanto queima a si mesmo, e que aquece porque se consome.

"Nasci para escrever.(...) Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz."
"Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever..." ( Entrevista)

"... em torn
o dele soprava o vazio em que um homem se encontra quando vai criar. Desolado, ele provocara a grande solidão. (...) E como um velho que não aprendeu a ler ele mediu a distância que o separava da palavra." ( A Maçã no Escuro)

Expressiva e significativa seria a própria escolha de seus títulos ao evocar etapas no caminho cabalístico que percorre, entre outras, as esferas do corpo e da sensação, do amor, da paixão, do prazer, da iniciação, da escuridão, da perplexidade ou da estranheza , do esplendor, etc. Bastaria lembrar alguns: A Via Crucis do Corpo; Perto do Coração Selvagem; A Paixão segundo G.H.; A Maçã no Escuro ; Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; A Legião Estrangeira; e Visão do Esplendor.

"Sei o que estou fazendo aqui: conto os instantes que pingam e são grossos de sangue." (....)

"Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. Se Heidegger pudesse ter deixado de ser alemão, se ele tivesse escrito o Romance da Terra. (...) É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde o fôlego ela continua , mais longe ainda, mais longe do que todo saber."
( Hélène Cixous in A HORA DE CLARICE LISPECTOR)

Além do pensar filosófico, que se expressa em feminina e socrática ironia, há uma ética na escrita de Clarice: uma caridade autêntica e um profundo respeito pelo semelhante, pela criança e pelo mendigo, pelos desencontrados laços de família, pelos amores infelizes, por nossa finitude.

"Você sabe que a esperança consiste às vezes apenas numa pergunta sem resposta?" ( A Maçã no Escuro)
"Ah! meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior."

E assim como o poeta que se expande e se dissolve no mundo e na natureza à maneira do Criador, Clarice, que não tem medo da incompletude, por isso mesmo cresce e se expande nos últimos parágrafos de A Paixão segundo G.H.:
"Eu estava agora tão maior que já não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. Mais perceptível nas minhas mais últimas montanhas e nos meus mais remotos rios."


"Era Clarice bulindo mais fundo onde a palavra parece encontrar sua razão de ser e retratar o homem."
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

"Clarice não delata, não conta, não narra e nem desenha – ela esburaca um túnel onde de repente repõe o objeto perseguido em sua essência inesperada. / Clarice devora-se a si mesma."
LÚCIO CARDOSO, escritor, cineasta, pintor e grande amigo.

"...(você pega mil ondas que eu não capto, eu me sinto como rádio de galena, só pegando a estação da esquina e você de radar, televisão, ondas curtas), é engraçado, como você me atinge e me enriquece ao mesmo tempo, o que faz um certo mal, me faz sentir menos sólido e seguro."
RUBEM BRAGA, escritor e amigo.
Fonte: Vidas Lusófonas

"As pessoas que se comprazem no sofrimento, que gostam de sentir-se infelizes e fazer aos outros infelizes, jamais poderão orgulhar-se de sua beleza. O mau humor, o sentimento de frustração, a amargura marcam a fisionomia, apagam o brilho dos olhos, cavam sulcos na face mais jovem, enfeiam qualquer rosto. Essa é a razão porque a mulher, que cultiva a beleza, deve esforçar-se para ser feliz. Felicidade é estado de alma, é atmosfera, não depende de fatos ou circunstâncias externas.” Clarice Lispector (Correio Feminino)




Clarice por Cris

Por que escolhi Clarice como meu porto seguro? Talvez, pela minha impulsividade em escrever o que vem à cabeça, sem me preocupar com o que revelei... ou, talvez, por deixar viver em mim um lado infantil fartamente feliz! Mas, bem lá no fundo, sei que a admiro por todo o transbordar de emoções que permeiam cada um de seus poemas e poesias...
E sempre guardo comigo, a sete chaves, as seguintes palavras de Clarice Lispector: "sou um mistério para mim mesma".
Cristina
A Dança
(Cristina Brandão)

"Danço a valsa das ilusões
Movimento meu corpo ao sabor da liquidez das ondas prazerosas
Deliro prontamente na doação de mim mesma
Sou tua por um tempo
Não mais me pertenço
No bater das asas de um anjo
Flutuo nos acordes imperceptíveis da melodia
Cativa em seus braços
Não retiro a máscara que escamoteia meus desejos
Vilão de outrora
Heroi de agora
Deixarei meus sonhos em suas mãos
Por uma noite
Apenas por uma noite."



Clarice por Márcia

A influência de Clarice em minha poesia é marcante... o inexorável caminho para a solidão e a carência traduzida em emoção, junto ao eterno encantamento de poder renascer através de cada palavra que escrevo... assim sou eu.
Márcia
"Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de onde e como você me vê passar." (Clarice L.)

Meus Pedaços
(Márcia Figueiredo)

"Desmaio sobre palavras,
sobre pétalas,
sobre o que tenho em mim...
e se não suporto o virar das páginas
a virar a minha vida,
a tornar passado o que foi futuro
é porque derrubo pelo caminho
minha essência pura,
nua, bêbada e lânguida...
cultivada em prazer e dor
em ardência e gelo
em princípio e fim."

5 de out. de 2009

A Escuridão


Nuvens escuras se fechavam sob o céu do Arquipélago de Anavilhanas. O vento do norte não era bem-vindo para as mulheres da aldeia. Saindo do interior do Templo, a velha guardiã Caiari caminhou em direção ao jardim lateral, de onde podia sentir a energia trazida pela força do ar revolto. Olhando ao redor, observou as folhas serem arrancadas do corpo das árvores, e se juntarem a tudo o que pudesse ser tragado pelo redemoinho gélido que se formara a sua frente. Um mau presságio a fez estremecer: por um momento teve a visão da escuridão se apoderando do seu povo. Adiantou-se, e, erguendo os braços e os olhos para o céu, deixou-se envolver pela corrente em espiral que comandava o cenário aterrorizador, desafiando com uma prece o poder maligno que dilacerava o seu espírito:

Vento do norte que vibra com esperanças perdidas
E com lágrimas derramadas por dores sofridas
Vento que chama os espíritos de luz para a escuridão
E traz mais sofrimento aos espíritos fracos
Encontre o caminho de volta ao seio da Mãe Terra
E liberte do teu poder as vidas que não te pertencem!


Seu corpo absorveu o redemoinho, dissipando-o, e ela caiu sobre a terra, pálida e sem forças.

28 de set. de 2009

Em busca de Metais Preciosos



(...)
O índio concordou com a cabeça.
-E por que os guerreiros da sua tribo estavam lutando ao lado delas?
-Nossas tribos são aliadas e trocamos favores.
-Que tipo de favores?
-Ajudamos em batalhas, participamos do seu ritual de fertilidade, ou então oferecemos nossos prisioneiros para gerarem novas vidas. Recebemos em troca presentes brilhantes, como esses que você me deu.
Rodrigo sentiu que precisavam invadir logo aquele Templo, pois a cada momento aumentava a certeza da existência de metais preciosos nas terras que encontraram.
-Quando pode nos levar até lá?
Desconfortável por trair as aliadas de seu povo, Acauã cobriu o rosto com as mãos.
-Daqui a três luas as águas subirão e poderemos chegar à aldeia pelos igarapés. Mas temos que ter muito cuidado, pois existem animais perigosos neste caminho pelo rio. Eles comem gente, mas protegem as guerreiras.
Ainda insatisfeito com o pouco que descobrira sobre suas inimigas, Rodrigo indagou enfurecido:
-Que diabos de mulheres são essas que os animais selvagens não atacam e que lutam como homens? Que poder é esse que elas possuem?
-É a Magia.
-Por Dios, como posso acreditar que algo assim as torne tão poderosas a ponto de nos derrotar? Não acredito nisso. Acredito na estratégia de luta, na força e na habilidade dos meus soldados! - Ele franziu o cenho, quando uma idéia lhe veio à mente. - Em que época ocorrerá esse ritual sagrado?
-Daqui a cinco luas, quando o ciclo da vida na floresta se renovará.
Rodrigo esboçou um sorriso. Talvez houvesse encontrado o ponto frágil daquela tribo invulnerável. Sim, esse seria o meio para invadir o Templo... Ele buscou o olhar de Hugo, que acompanhava a conversa, e comunicou:
-Nessa época participaremos do ritual como prisioneiros da tribo de Acauã. Será o momento da nossa invasão.
(...)

23 de set. de 2009

23 de setembro - Alma em Flor...

"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso." Charles Chaplin


Querida amiga e parceira
Nosso tempo nessa vida tem sido alegria e eterno partilhar; angústia e completo desatino; pressão, amor e dor; caminho árduo, pedras constantes; aromas, cores e flores; dias e noites; trabalho intermitente, busca incessante...
Aprisionada nesse corpo, minha alma tatuada em versos, prosas e paixões goza a liberdade de resgatar amizades e identidades...
Como agora, quando agradeço pela dádiva de ter você como minha amiga.

Feliz Aniversário, Cris!
Márcia


21 de set. de 2009

O Dilema De Yana


  "No caminho de volta à aldeia, Yana não parava de pensar em tudo que acabara de acontecer. Com os punhos cerrados, apertava o cabo da faca com força em suas mãos, não acreditando que passara por aquele tormento.

   Por que Rodrigo a ferira tão profundamente? Num instante, ele a encheu de vida; no outro a matou.  E ela consentiu. Sim, ultimamente, havia se deixado enfraquecer. Então esse era o sentimento contra o qual o seu povo se afastara, e sua mãe a havia alertado? Amar trazia muita dor e sofrimento. Não valia a pena.

  Ao chegar, assustou-se ao ver a mãe acordada. Sentou-se a seu lado olhando-a nos olhos, e segurando suas mãos, falou serenamente:

  -Não me pergunte o que aconteceu, mas entendi a sabedoria de suas palavras.  Preciso provar a mim mesma que sou digna de guiar o nosso povo, e para isso devo participar do ritual com o capitão, pois só assim eu saberei se posso servi-las como uma verdadeira sacerdotisa. Tenha certeza de que o que passei serviu para fortalecer o respeito aos costumes do nosso povo, e agora faço deles o meu caminho. Você tem minha palavra, e quero a sua de que o meu pedido será atendido.

   Caia percebeu o brilho diferente no olhar da filha, e sentiu que poderia confiar nela. 

   -Não quero entender o porquê do seu pedido, mas acho que você tem que enfrentar isso como uma prova final. O confronto com a dor trará feridas profundas, mas quando elas cicatrizarem, você será mais forte. Sempre é melhor enfrentar os desafios para não haver arrependimentos. O que acaba de pedir será feito."  




15 de set. de 2009

Ao encontro de seu filho...



    " O barulho das ondas batendo contra o casco do navio era como um lamento aos ouvidos do capitão, e a cena em que o corpo do amigo fora engolido pelas águas do mar não saía de seu pensamento. No íntimo, Rodrigo sabia que a dor pela perda de Juan seria superada. Pensava às vezes que até seria melhor se fosse ele a sucumbir naquela derradeira batalha, pois seria o modo mais fácil de acabar com sua amargura. Seu instinto o fez apertar o amuleto na palma da mão. Ele nunca fora um covarde... O cansaço estava vencendo o guerreiro, e com passos largos desceu até a cabine para tentar dormir um pouco. Ao deitar-se, sentiu os olhos pesados, e nem percebeu quando adormeceu. Foi um sono agitado, abalado por fatos recentes de sua vida. Sua mente não descansava... As sangrentas batalhas, as longas noites solitárias e a imensa saudade de sua amada o conduziam a um longo túnel, de onde não havia saída. De repente, um vulto surgiu, estendendo-lhe a mão. Era uma mulher com longos cabelos negros, que caíam sobre uma veste prateada. Um amuleto em forma de sol repousava em seu colo. Ao vê-la sorrir, sentiu um grande amor envolvê-lo.
-Mãe?
-Filho, venha comigo, Yana precisa de você!
Então ele se levantou, unindo suas mãos às dela, e a acompanhou. Sua camisa encharcada de suor estava colada aos músculos enrijecidos pela tensão; subiu pela escada de corda até a cesta da gávea do mastro mais alto, e viu a vastidão do mar envolta em uma densa bruma. O forte luar penetrava pela névoa, criando visões. Viu o rosto de Yana numa máscara de dor, chamando por ele. Precisava estar com ela. Fechando os olhos, atravessou a escuridão e postou-se a seu lado, envolvendo com amor suas mãos úmidas e geladas."

9 de set. de 2009

Fogo da Paixão


"...E enfeitiçada, deixou-se enlaçar pela cintura, aproximando seu rosto do dele perigosamente. Foi abraçada de forma possessiva, e fechou os olhos, encostando a cabeça no peito de seu par. A boca de Rudá buscou o seu pescoço de forma predadora, e a quentura de seu hálito despertou-a do torpor em que se encontrava. Abriu os olhos, e assustada, deparou-se com o olhar de Rodrigo já dominado pela fúria. A vibração emanada por ele era perturbadora, e a trouxe de volta à realidade. Surpresa por não ter impedido a intimidade forçada por Rudá, Yana puxou Maíra para ficar em seu lugar. Saiu da roda apressadamente, passando por Rodrigo como se não o tivesse visto, buscando acabar com a sensação estranha que sentia. Sem saber o que fazer, ainda sob o efeito da droga, ela foi andando em direção à fogueira. Aos poucos, Yana foi se envolvendo com o calor do fogo e a beleza das chamas, e fechando os olhos, Rodrigo veio à sua mente. Instintivamente voltou a dançar, como se seu corpo exigisse os movimentos sensuais do amor. Ela foi ficando tão quente que parecia estar sendo consumida pelo fogo. Mas o calor que sentia era do fogo da paixão, pois Rodrigo chegara perto dela, e agora acompanhava seus movimentos com a força máscula de seu corpo pressionando-a. Não suportando mais o desejo, sussurrou em seu ouvido:
-Te quiero...
Ela sentiu suas mãos fortes a percorrer-lhe o corpo, descendo até as coxas e trazendo a veste que lhe cobria os quadris para cima. Abriu os olhos e fitou o fogo, entregando-se ao dono daquele poder. Foi quando os lábios sedentos do homem exploraram a delicada curva de seu pescoço, e as mãos se apossaram de seu infinito desejo, que clamava por ele. Sem saber se pelo efeito da bebida ou se por vontade própria, ela se entregou com sofreguidão àquelas carícias.
Buscavam um no outro a energia vital para permanecerem vivos. Rodrigo girou Yana lentamente e a pôs de frente para si. Seus braços a aprisionaram e as bocas se buscaram de forma voraz. Seus corpos queriam se fundir, e não havia como fugir: suas almas se uniram, e um não viveria mais sem o outro. O beijo devastador teve o poder de libertar o sentimento que até então tentaram ocultar em seus corações..."

24 de ago. de 2009



Capítulo V


Outubro de 1633

 


                       Anavilhanas estava sendo preparada para o ritual da fertilidade, pois chegara a época da celebração. Yana e Amanari iriam com outras guerreiras até a ilha de Tupé para colher o paricá, uma erva alucinógena usada durante o ritual para evitar o envolvimento emocional das guerreiras com seus pares. 

         As canoas oscilavam perigosamente sobre as turbulentas águas do rio Negro, agitado devido à tempestade ocorrida horas antes. As jovens precisariam ter muito cuidado durante a travessia, pois o rio parecia pronto a tragar quem ousasse enfrentá-lo. Chegando ao seu destino, elas aliviaram a tensão ao se embrenharem entre os arbustos para colher a erva. Aos poucos, o trabalho deu lugar à diversão, e correndo, subiram a colina que dividia a pequena ilha. De lá era possível vislumbrar o espetáculo que os botos cor-de-rosa proporcionavam a quem pudesse vê-los. Distraídas, caminharam de volta para a areia da praia, quando o encanto foi quebrado pela cena que se apresentou: espalhados pela areia branca, vários homens encontravam-se desacordados, apresentando ferimentos profundos. O cheiro de sangue fresco já atraía os répteis para o local. 

          Yana engoliu em seco, e se apressou para afastar um jacaré que se aproximava de uma das vítimas. Avançou em sua direção, e fixando o olhar nos olhos do animal, buscou dentro de si o instinto primitivo de seus ancestrais. Então, ordenou mentalmente que voltasse para a água. Hipnotizados pelo poder emanado daquele espírito, os répteis retornaram ao rio.  Um ligeiro mal-estar se apossou da mulher, e recuperando-se do transe, ela falou com a voz embargada: 

         -A fúria dos deuses foi implacável com eles. Venham, precisamos ajudá-los. Amanari, temos que ver quem está mais ferido. Maíra, vá até a colina e traga cipó-d'alho e unha-de-gato. Examinem todos com cuidado, lavem os ferimentos e usem as ervas. Depois levaremos os homens para as canoas. 

       Elas se apressavam para cumprir as ordens. Ouvindo um lamento de dor, Amanari precipitou-se em direção ao som, gritando agitada:

      -Yana, encontrei mais um com vida! Ajude-me a levantá-lo para que possa respirar melhor. Depressa! 

    Imediatamente Yana ajudou a irmã, e as duas encontraram dificuldades para recostá-lo no pequeno monte de areia. Quando finalmente conseguiu virá-lo, Yana o fitou, atordoada. Nunca havia visto um homem de traços tão perfeitos. Os cabelos longos e louros misturavam-se aos grãos de areia, e as roupas molhadas e esfarrapadas revelavam músculos de um corpo poderoso. Um corte profundo rasgava sua testa, e o estranho parecia sofrer, com a boca comprimida em um gesto de dor. Então, sem se dar conta, ela passou suas mãos pela fronte do homem, necessitando tocá-lo de alguma forma. Confusa, ela não compreendeu o sentimento que invadiu seu peito, e por um breve momento desejou tomar para si a dor que ele sentia.  

    -Maíra - ela gritou aflita -, traga a erva para estancar o sangramento. Este homem está muito mal. 

          

       O suave toque em sua testa aliviou a dor que ele sentia, como se fosse o toque de um anjo. Por um instante, Rodrigo abriu os olhos para ver quem o acariciava tão docemente. 

        -Quién eres tú?

       A voz rouca acariciou seus ouvidos, e Yana fitou o desconhecido, mergulhando no verde de seus olhos, que possuía um tom tão vivo quanto o das folhas da floresta. Ele estendeu a mão para ela, querendo dizer algo, e ela afagou a mão do estranho entre as suas, sentindo um agradável calor tomar conta de seu ser. Tentou organizar os pensamentos, e alarmada, prendeu a respiração. O tempo parou. E ela só voltou à realidade quando ouviu ao longe a voz angustiada de sua irmã: 

         -Yana, o que houve, você está bem? 

         Respirando profundamente, ela soltou as mãos do ferido. 

       -Não se preocupe, foi um ligeiro mal-estar. Fiquei fraca devido à energia que doei para ele.

     Rodrigo fez um enorme esforço e abriu os olhos novamente, sorrindo para sua salvadora. Foi o sorriso mais terno que ela já havia visto, e isso a comoveu. Prometeu a si mesma que ia salvá-lo, mesmo que o ato ligasse seu espírito ao dele para sempre... O tempo era a diferença entre a vida e a morte, precisava apressar-se.


            

19 de ago. de 2009

A Magia do Amuleto - Introdução

Introdução


Entre as inúmeras lendas que cercam a Amazônia de magia e mistério, há uma que conta a história de tribos constituídas exclusivamente por mulheres. A formação dessas tribos esteve ligada à exploração e humilhação que as mulheres sofriam junto aos homens com quem viviam. Corajosamente, elas fugiram e se organizaram em grupos.
Ficaram conhecidas como Icamiabas - mulheres sem marido - e passaram a ser respeitadas por sua capacidade de sobrevivência. Escolhiam, para a perpetuação da tribo, guerreiros indígenas fortes e corajosos, ou homens brancos capturados nas lutas travadas. Durante o ritual de procriação, eles eram presenteados com pequenos objetos, feitos com o barro verde retirado do fundo da Lagoa Sagrada - os muiraquitãs. Com o passar do tempo, esses amuletos foram encontrados por naturalistas e arqueólogos em vários pontos da Amazônia. Atualmente, a maioria se encontra exposta em museus do exterior ou em coleções particulares.
Em 1541, uma expedição espanhola comandada por Francisco de Orellana percorreu o Rio Grande (conhecido como Mar Dulce), desde os Andes até a foz, no oceano Atlântico, em busca de ouro e prata. Durante a travessia, houve um confronto com várias guerreiras na foz do rio Nhamundá (divisa entre os estados do Amazonas e Pará). Este confronto foi relatado em diário de bordo por Frei Gaspar de Carvajal, que as descreveu como “mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos, que andavam completamente despidas, com arcos e flechas, guerreando como dez índios”. Elas foram associadas às guerreiras da mitologia grega, e o rio foi batizado como "Rio de las Amazonas".
E aos poucos a Amazônia revelou-se ao mundo, despertando nos povos conquistadores o interesse pelos seus mistérios e suas riquezas. Mas a exploração que se seguiu deixou um rastro de degradação e morte na imensa floresta.
Nossa história se inicia com essa busca desenfreada por riquezas, e o encontro inevitável com a magia do lugar…



Cristina Brandão e Márcia Figueiredo

5 de ago. de 2009

Our Dreams

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.

Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de verão.
No fundo, isto não tem muita importância. 

O que interessa mesmo não é a noite em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre,
em todos os lugares,
em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado."

William Shakespeare

4 de ago. de 2009

Bienal do Livro - RJ 2009

Caros Amigos 
Postamos agora a última carta enviada aos nossos editores:

Somos duas autoras que um dia acreditaram em vocês. Nossa maior decepção foi não recebermos um simples relatório de vendas, onde constasse a quantidade de livros que vendemos. E não foi por falta de solicitação.  
Aos poucos resolvemos nos afastar, e hoje nos deparamos com esse blog, que para nós era desconhecido.  
Parabéns às novas aquisições, que estão tendo muito mais divulgação do que os primeiros a acreditarem na Baraúna. Quando lançamos o nosso livro, fizemos questão de enviar fotos do nosso evento, mas elas devem estar perdidas por aí...  

Semana passada soubemos de um simpósio ocorrido em SP, sobre novos escritores que escreveram sobre lendas e mitos do Brasil. Mas talvez seja excesso de expectativa nossa esperar que vocês associem uma publicação ( já esquecida) com um tema que certamente vocês desconhecem constar de seus arquivos. E quanto à Bienal do livro no RJ? Vocês teriam alguma ideia para propôr aos que porventura queiram participar? Um stand para autor independente está por volta de 1750,00. Será que como editora independente vocês teriam como dividir esse espaço entre autores que se interessassem? Pois nós não dispomos desse dinheiro, além do que precisamos desembolsar para adquirir livros para a exposição. Talvez vcs tenham alguma influência entre os organizadores para sugerir esse tipo de arranjo.  

Abrimos diariamente e-mails, e nenhum contato é feito desde o pedido de atualização de dados cadastrais, que não foi respondido por não haver nenhuma alteração. E quanto à redução do preço do nosso livro que solicitamos em troca de nossa comissão baixar? Queremos que o livro tenha condição de venda, posto que os preços médios de bons livros de renomados autores no mercado estarem na faixa de 22,00. De que adianta as parcerias que vcs fazem com outros sites de venda se nossos livros passam a competir com livros que custam 9,00?  
Pelo jeito, "A Magia do Amuleto" vai continuar em seu túmulo virtual ainda por um longo tempo... Marcia e Cristina

17/03/2009 - Descaso+Incompetência=Engano Imperdoável

Descaso+Incompetência = Engano Imperdoável

Correção / Autoria: Cristina Brandão e Márcia Figueiredo

Fazendo uma busca no Google, surtamos!!! (pra variar) Ao digitarmos o título do nosso livro, encontramos uma página de venda da editora, e ao lado do título, uma outra pessoa constava como autora. Olhamos uma pra outra e ficamos sem entender: será que o surto era tamanho que outra escritora era também nossa parceira e não sabíamos? rsrrssrrs
Infelizmente, tivemos outra prova que a nossa editora, além da pouca divulgação feita, quando faz, faz m#rda...
Levamos dois anos trabalhando sério pra ver nosso livro com o nome de outro autor? Ora, faça-me o favor: TIRA ESSE SAPO DA MINHA GARGANTA!



Sapo, cuidado que a cobra te pega...

29/05/2009 - Sacerdotisa



"Seus longos cabelos negros cintilavam sob o imponente cocar adornado com pedras e penas amarelas, e desenhavam sua silhueta ao repousarem suavemente sobre suas costas. Através de seus olhos, verdes como o círculo de jade que pendia em seu colo, podia-se quase tocar a tristeza que lhe ia na alma. Yana proferia sábias palavras, mas seus lábios não conheciam mais a doce expressão de um sorriso:

Deuses que zelam por nosso povo
Protejam mais um ritual da fertilidade
Deixem brotar a semente que será resguardada no ventre
de cada mulher guerreira
Povoem nossa aldeia com novas vidas repletas de luz
E façam com que essa luz nos guie pelo caminho da paz


Ela havia se tornado a guia espiritual de sua aldeia, e zelava por cada mulher com a força que absorvia da Mãe Terra. Seus poderes místicos se fortaleciam a cada sol, e a luz da lua os abria para o mundo. Sua sabedoria amadurecera com o decorrer do tempo, e em cada gesto deixava fluir a bondade de seu coração. Mas o ritual da fertilidade continuava despertando dolorosas lembranças, e uma lágrima silenciosa rolou, traçando em seu rosto as marcas do sofrimento. Enquanto observava o desenrolar da cerimônia, sua face se transfigurava. Naquele momento, o peso do passado era insustentável."


Parte do cap. XXI do livro "A Magia do Amuleto".

27/03/2009 - A Magia de um Encontro




"A lua tornara-se cúmplice da explosão de paixão que se seguiu. Rodrigo pegou Yana em seus braços, e a levou por entre a cerca viva de flores e cipós, atravessando a areia macia e acolhedora que ficava em torno da pequena lagoa. Lentamente, sem desviar seu olhar dos olhos da amada, ele a pôs no chão e a despiu, deixando cair a faixa de couro que cobria sutilmente seus quadris. Seduzida pela força do amor que transpirava dele, Yana o puxou para si, num abraço desesperado, procurando sua boca numa tensão crescente. Rodrigo tentou mantê-la colada ao seu corpo, enquanto se desfazia de suas roupas. Caiu sobre ela sem parar de beijá-la, firmando suas costas com a força dos músculos do braço. Deitando-a com cuidado sobre a relva macia, admirou os cabelos enfeitados com flores se espalhando como um manto negro, emoldurando o rosto que demonstrava o sofrimento trazido pela paixão reprimida. Ela não era mais uma sacerdotisa cumprindo um ritual: era uma mulher entregue ao homem de sua vida. E ele sentiu sua ânsia de viver esse momento.

-Yo te quiero, te venero, Yana! – Palavras urgentes, olhar devorador, gestos possessivos: a necessidade de possuí-la destruía sua alma.
-Ihé uru-aîhu, Rodrigo! Quero sentir tudo o que esse amor pode me dar - Yana sussurrava, com a voz entrecortada pela emoção.
-Então vem pra mim..."

(em "A Magia do Amuleto")

26/02/2008 - Tempestade


Capitulo XI
Durante a madrugada, a chuva caía pesada, o céu parecia chorar por ele. Rodrigo fixava o olhar em um ponto qualquer no teto da cabana, e assim como a água que limpava tudo lá fora, sentia a necessidade de expulsar de seu coração o misto de raiva e desejo que o consumia. Por que ele fora demonstrar o que sentia por Yana? Por que não percebeu que ao se calar perante a mãe ela rejeitara seu amor? Para que se expor daquele jeito se ela pertencia a um mundo tão diferente? Instintivamente, segurou seu amuleto. Uma onda de fúria fez com que arrancasse o cordão do pescoço, como se isso fosse capaz de tirá-la de seu pensamento. Deveria ir para longe, voltar para o navio, só assim estaria a salvo das armadilhas do amor. Sem pensar, levantou-se e saiu da cabana. Precisava lavar sua alma, e deixou a chuva forte cair sobre si, maltratando sua pele. Ergueu o rosto para o céu e deu um grito desesperado, como se pedisse auxílio às forças do universo para arrancá-la de dentro do seu peito:


- Dios!!!!


Yana abriu os olhos de repente. Havia sido difícil adormecer, e no momento em que se entregara ao sono, aquele aperto em seu peito a ergueu da cama. Seu coração a avisava de que algo estava errado, e ela só pensava em Rodrigo. Tinha que encontrá-lo para ter certeza de que nenhum mal o havia atingido. Desesperada, pegou sua faca e nem percebeu a chuva. Saiu correndo em direção à cabana onde ele estava. Era quase impossível enxergar o caminho, mas foi guiada pela intuição e pelos clarões que surgiam seguidamente no céu. Os trovões eram ensurdecedores, no entanto ela estava alheia aos avisos da natureza. Descalça, nem sentia as pedras machucando seus pés, pois só o que importava naquele momento era chegar até ele.
Nunca a ponte de madeira lhe parecera tão longa... Subitamente parou, estarrecida com o que viu: alguém estava à sua frente, fincado ao chão como uma rocha em meio ao lamaçal, ajoelhado e cabisbaixo. Era Rodrigo. Em meio à luz emitida por um raio que rasgara o céu, ele levantou a cabeça e a observou com um olhar lascivo. O corpo de Yana estava totalmente à mostra sob a fina veste molhada. A água da chuva deslizava pelas curvas sinuosas e tentadoras e ele passou a língua pelos lábios, desejando sorver cada uma daquelas gotas.
Ele se ergueu, e com um passo pôs-se à frente dela. Sobressaltada, ela largou no chão a faca que trazia consigo. Nada foi dito; a linguagem corporal falava por si só. Ele a prendeu em seus braços, apossando-se da sua boca com voracidade, até que o ar lhe faltasse. Suas mãos ávidas deslizaram pelas costas dela, e ao chegar aos quadris, abriu suas pernas, encaixando-a no fogo da sua descontrolada paixão. Buscando no fundo de sua mente algum resquício de lucidez, afastou-se dela lentamente, e viu o medo e o desejo estampados em seu rosto. Lançando-lhe um olhar endurecido, apossou-se de seus seios com mãos fortes, e rasgando o tecido, colou os lábios na pele macia e molhada. Aos poucos foi descendo, sua boca insaciável explorava cada parte da barriga, e ela gemia e se contorcia de prazer, até que ele chegou no ponto onde ela estava mais inflamada pelo desejo. Ele a levou a uma outra dimensão, e ela explodiu em um prazer incontrolável,
desconhecido,
inesquecível...
Por alguns momentos, ele conseguiu banir a raiva que o levou a agir daquela forma. Seu corpo nunca respondeu com tanta intensidade ao proporcionar prazer a uma mulher. A mistura de inocência e desejo primitivo em Yana era irresistível, e ele precisava possuir aquele corpo quente... Mas não poderia fraquejar agora, pois ela o excluíra de sua vida perante toda a aldeia. E não iria ser rejeitado duas vezes por uma índia.

Yana voltou à realidade, inebriada pelas emoções, e assustou-se com o sorriso de desdém que bailava nos lábios do homem que a subjugara através do prazer. Ela ainda segurava os cabelos de Rodrigo com força, quando finalmente ele se levantou. Fitando-o, maravilhada pelo que sentira, assustou-se ao deparar-se com outro homem. Alguém que ela não conhecia a tocara de forma voraz. E ela foi a única culpada por aquela mudança, com a sua omissão.
Deliciando-se ao vê-la tão submissa, Rodrigo fez um movimento brusco, afastando a mão dela de seus cabelos, e falou com uma voz cortante e fria como a chuva que caía.
-Você gostou do que eu te fiz sentir?
Entristecida, Yana tentava penetrar na redoma em que ele se escondera.
-Sim... Até ver em seus olhos que o Rodrigo que eu amo não estava aqui.
-O Rodrigo que você ama? Mas que tipo de amor é esse que rejeita e faz sofrer?
-Eu não te rejeitei, por favor, acredite em mim... Apenas compreendi que nossas vidas seguirão por caminhos diferentes. Você voltará para o seu povo e eu ficarei aqui, cumprindo a função para a qual fui criada.
Vagarosamente, Rodrigo abriu um sorriso de escárnio e bateu as mãos com firmeza, para aplaudir o que acabara de ouvir.
-Muito bem dito, princesa! Agora está falando como uma verdadeira sacerdotisa! Você acaba de decidir a minha vida sem ao menos saber o que desejo... E como sempre, está honrando seus costumes e esquecendo seu coração.
-Não posso ouvir meu coração!
-Mas você não ouviu seu coração ainda há pouco? Pois eu o ouvi clamar por mim. E quem estava aqui não era a sacerdotisa, mas a mulher que eu queria para ficar comigo para sempre.
-Você não entende que eu não posso abandonar tudo em que acreditei durante a minha vida?
Rodrigo a encarou pensativo, e viu que essa batalha estava perdida.
-Pois volte para sua aldeia e diga à Caia que participarei do ritual com a mulher que ela indicar. Quero ir embora daqui e esquecer este lugar o quanto antes.
Incrédula, Yana arregalou os olhos diante da mudança de atitude.
-Por que mudou de idéia?
Rodrigo aproximou-se mais, e emoldurando-lhe o rosto com as mãos, beijou-lhe seguida e avidamente, enquanto sussurrava:
-Vou aproveitar... princesa... para terminar com outra... o que comecei a fazer com você.
Zonza e com as pernas trêmulas pela embriaguez dos beijos e crueldade das palavras, juntou as mãos no peito de Rodrigo, afastando-o de si.
-Chega! O ritual não é fonte de prazer para nós, capitão!
-Mas para mim será. E não pense que o que se passou aqui teve alguma importância. Você surgiu do nada na minha frente e percebi que queria sentir prazer. Foi isso o que lhe dei. Algo para se lembrar enquanto viver.
Fuzilando Rodrigo com o olhar, Yana segurou as lágrimas.
-Agora que eu sei quem se esconde por trás do homem que pensei conhecer, arrependo-me de ter vindo até aqui.
-Tarde demais para arrependimentos... E daqui pra frente apenas este homem passará a existir. Portanto, cuidado!
Dizendo isso, Rodrigo correu os olhos cheios de cobiça pelo corpo nu à sua frente e foi embora, deixando-a sozinha.

Até aquele momento, Yana não havia se dado conta de sua nudez. A maneira como ele olhou para o seu corpo fez aumentar sua ira frente à fraqueza que sentira em seus braços. Finalmente reconhecera o mal, e iria combatê-lo. Pegando a faca que estava no chão, saiu correndo na direção de Rodrigo.
-Capitão...! Volte aqui!
Rodrigo virou-se devagar e viu a fisionomia dela transtornada.
-Acho que já terminamos a nossa conversa... Ou ainda quer algo de mim? Não foi suficiente o que eu lhe dei?
-De você eu não quero mais nada, Rodrigo de León, e não tenho medo de suas ameaças. Tenha cuidado comigo também, pois você ainda não me conhece!
-Conheço você mais do que pensa...
Ferida e descontrolada, Yana partiu para cima dele que, surpreso, não conseguiu evitar o golpe que ela desferiu em seu peito com o pé, e desequilibrado, caiu. Ela pulou sobre ele rapidamente, sentando-se sobre seu tronco, prendendo-o entre suas pernas e pressionando seu pescoço com a ponta da faca. No chão, extasiado com a atitude da mulher, e sentindo seus cabelos molhados roçarem sua pele, percebeu a respiração quente e ofegante contrastando com a fria lâmina da faca que o ameaçava. A beleza, outrora suave, do rosto de Yana, dera lugar a algo selvagem, indomável e avassalador. Seus olhos o queimavam com a fúria do fogo. Naquele momento, ela era o próprio fogo. Rodrigo sentiu-se totalmente dominado pela guerreira.
Yana levantou o canto dos lábios e, falou, com um sorriso enigmático:
-Estava enganado. Agora sim você me conhece. E coloque de volta o amuleto em seu pescoço, pois você vai precisar dele. – E aproximando seu rosto sem afrouxar a pressão da faca, beijou-lhe a boca, abrindo os lábios de Rodrigo com o furor de sua língua. Quando ele relaxou e quis retribuir o beijo, ela lentamente afastou o rosto, levantando-se. Olhando-o do alto, vitoriosa, afirmou lentamente:
- De você, capitão, não quero mais nada...


Essa é uma degustação, se você gostou, adquira o livro " Magia do Amuleto" através do site www.sebohadassa.com ou através do e-mail letras.ideias@gmail.com

06/12/2008 - A descoberta do amor...



"E depois dessa noite, depois de sentir o sabor daquele corpo, ela havia se entranhado em seu ser, e o cheiro doce se impregnara em seus poros..."


Desistir, jamais... 14/11/2008



Pedras foram jogadas ao longo do caminho, na tentativa de dificultar a jornada que tínhamos pela frente. Caíamos... Sofríamos... Mas ao final, reerguíamos a cabeça e íamos seguindo nossa intuição! Caneta, papel, anotações e o computador eram nossos aliados das (parcas) horas que nos dedicávamos à árdua e prazerosa tarefa da escrita. As ideias germinavam em nossas mentes, procurando com avidez se fixarem ao papel. O tempo não era suficiente... As horas corriam sem freios... As solicitações caseiras, sempre prioritárias, cortavam como navalhas o encadeamento da trama, em nosso momento de criação. A perseverança sempre nos deu forças para continuarmos o projeto da "Magia do Amuleto", e os "nãos" nunca foram levados em consideração. A conspiração das forças do universo nos impulsionavam, cada vez mais e mais... E a história das índias guerreiras fluía como se houvéssemos a tudo vivenciado: angústias, alegrias, orgulho, medo, coragem... Nos tornamos personagens de nossa própria imaginação! É difícil para quem não escreve, entender todo o processo de construção e reconstrução que cada personagem precisa passar ao longo de páginas e páginas de registros de cada cena. O descrédito de algumas pessoas continuava a nos incomodar, embora a história já estivesse concluída. Entretanto, a nossa certeza nos sinalizava o contrário, afirmando intimamente: sigam... as pedras do caminho lhes ajudarão na solidez de seus sonhos! Palavras soltas ao vento, não têm valor; vale o que está escrito! Vale o que trouxe à tona palavras adormecidas no fundo da sua alma, do seu eu lírico... O livro será editado, sim! A história que nos foi passada será difundida! E os sonhos contidos nas entrelinhas serão realidade, para os leitores que penetrarem na Amazônia encantada de Yana e Rodrigo. A Magia do Amuleto nos apresenta um mundo onde o impossível... jamais teve chance de não existir! A possibilidade do ser ou não ser torna essa trama mágica!

A Sacerdotisa e o Capitão - 31/10/2008


Quando você entrar no mundo mágico da Amazônia do séc. XVII, encontrará nossos protagonistas, Rodrigo e Yana. Eles estão muito bem representados na foto acima, (retirada do livro "Herança da Paixâo", de Shannon Drake). Parece que saíram da "Magia do Amuleto" para o nosso blog... Você resistiria a esse capitão?

08/10/2008 - Make off da Magia




Ontem pela manhã, colocamos o livro corrigido no Sedex. Parece até que escrevemos um segundo livro, aliás, parece que foi o vigésimo!!!!! A cada correção, tínhamos a sensação de que poderíamos contar as coisas de uma outra forma, e começávamos a mudar...a mudar... Até que o tempo falou mais alto e nos demos conta de que tínhamos que terminar essa inglória tarefa: corrigir o que nós mesmas escrevemos!
Nesse momento nos deparamos com todos os sentimentos que afloraram em diversas fases no desenrolar da trama - a chatice inicial da protagonista nos deu vontade de matá-la no terceiro capítulo: ao invés de se parecer uma nativa guerreira da Amazônia, assemelhava-se mais a uma Barbie na Inglaterra do século XVII. Nooooooossssssa! O que fazer?
Ei, peraí! Nesse exato instante acabamos de perceber qual foi o nosso maior desafio: a reconstrução da personalidade da protagonista. Só depois de muito discutir, analisar e escrever, conseguimos o que queríamos: uma mulher apaixonada, impedida de viver esse amor para seguir costumes pré-estabelecidos que norteavam sua vida.
O segundo grande entrave foi o vilão: ele não queria ser do Mal. Por mais que tentássemos, ele sempre era o poderoso da cena. Bonito, forte, selvagem, e extremamente s e n s u a l! hahahahaahahahahah Imaginem: como conseguir fazer uma pessoa com estas qualidades não ser o herói? Paramos e falamos abertamente com ele: -Chega! Não saia mais da página, fique no seu papel. E aceite seu destino!!!
E o que vocês achariam se lhes contássemos que o Matias de Albuquerque, sim, aquele mesmo, o governador-geral da capitania de Pernambuco, era um grande amigo do nosso capitão? Ah, isso podia ter acontecido, sim, mas e o dilema? Coloca o nome dele? Só citamos a situação? Ao lerem, vocês entenderão o que dissemos.
Foram tantas indagações, que poderíamos ficar o dia inteiro escrevendo! Na verdade, o único personagem que não nos deu trabalho (e foram mais de 25!) foi o capitão espanhol. Ele nasceu e cresceu pronto para o que quer que escrevêssemos. Que satisfação vê-lo nadar nu na cachoeira de Anavilhanas!!!!! Uma visão que vocês também terão ao ler as páginas do nosso livro.
Até a próxima!

Cristina e Márcia

25/09/2008 - Do Inferno ao Céu

Cristina falando:
Sete dias depois do último contato com a Editora, sonhei que estava cercada de "bostas" em profusão. Entendam bem: bosta mesmo, vulgarmente conhecida como "cocô". Eu abria a janela da minha casa e chovia bosta. Corria para o jardim e a bosta jorrava da fossa. Acordei com a sensação de que meu mundo viraria o caos. Ao chegar para trabalhar, contei o sonho pra Márcia, e achamos que seria nosso fim... Nossos maridos estavam certos, estávamos fadadas ao fracasso! Uma idéia surgiu: Vamos ver o significado deste sonho. A interpretação apareceu logo na primeira resposta do google (nosso guru virtual): Merda significa muita sorte, nas palavras do confiável site:
"FEZES: Incrível, mas é um sonho de bom agouro; indica sorte no campo profissional; realização de negócios vantajosos e lucros em qualquer tipo de empreendimento."

Cris e Márcia falando:

Dois dias depois, encontramos nossos sonhos e esperanças depositados com total desleixo na caixa de correio da Cris, por um carteiro substituto e inexperiente. Com metade do conteúdo exposto, poderia ser levado por qualquer um, ou ser danificado. Ao abrir a embalagem, qual não foi nosso espanto ao percebermos que se tratava do livro tão ansiado. Agora sim, tínhamos a prova de que ele havia ficado "melhor que ótimo", citando as palavras do nosso editor. Desde então, foi como se uma onda do mar banhasse nossas almas, levando todos os sentimentos negativos trazidos pela angustiante espera.

Segue abaixo a carta-resposta que enviamos à Editora Baraúna, ainda envolvidas pelas emoções daquele dia:

Um fato ocorrido hoje fez cair por terra todos os nossos conceitos e pré-conceitos à cerca de sua instituição. Sim, porque Baraúna é uma instituição acolhedora, com raízes fortes, e propensa à imortalidade. Tal nome, escolhido em momento de completa magia, não poderia significar nada menos do que a própria árvore, que, tão firme em seu propósito de crescer e abastecer seus frutos com a mais pura e sagrada seiva, nunca demonstraria sinais de descaso por nenhum de seus filhos. Filhos, sim. Pois foi esse o sentimento que despertou em nosso coração quando abrimos o despretensioso pacote abandonado na caixa de correio da casa da Cris: Um amor incondicional pela Mãe Baraúna!!!!
Que ela cresça frondosa e livre do desmatamento, regada pelo néctar financeiro de milhões de leitores, enlevados pelo conteúdo valoroso e delicioso de seus frutos.

Sem mais, subscrevemos-nos, totalmente arrependidas de deslizes momentâneos causados pela ansiedade + TPM+cobrança + falta de contato + correio incompetente +...

Editando... publicando? 10/09/2008

O livro já está pronto! Depois de dois anos trabalhando com afinco e dedicação, apesar dos inúmeros obstáculos, finalmente fechamos um ciclo: "A Magia do Amuleto". Registramos nossa obra junto à Biblioteca Nacional, e saímos de lá nos julgando "as escritoras". Fomos comemorar com chopp e galeto (isso foi antes da lei seca...).
Tivemos a certeza de que a história agradaria a todos os apreciadores do gênero romântico. E começamos a saga da busca pelas editoras.

1ªtentativa: Apoio dos amigos
Resolvemos entregar a obra para uma pessoa amiga, que iria encaminhá-la a um conhecido de uma renomada editora. Fiasco total. Depois de três meses aguardando, solicitamos a devolução da obra. E imagine a nossa decepção ao percebermos que, além de não ter sido "aprovada", ela não recebera nenhuma anotação sobre o motivo da não publicação. E uma ligeira desconfiança até hoje ronda nossos pensamentos: "Será que alguém leu?" Tudo bem. O caminho ainda não era esse.

2ªtentativa: Publicação independente.
Decidimos. O caminho era uma "publicação independente". Encontramos vários editores independentes na internet, e optamos por um que estava estabelecido no centro de nossa cidade. Marcamos a entrevista e fomos até lá. O trabalho tinha uma qualidade excelente, e o editor nos pareceu uma pessoa séria. Mas o preço final foi um balde de água fria no nosso entusiasmo. Teríamos que fechar o contrato em mil exemplares, chegando próximo aos dez mil reais. Se optássemos por uma tiragem menor, o custo unitário seria inviável. Detalhe: nossos maridos sempre foram contrários ao nosso trabalho, e não possuíamos outra fonte de renda. Entendam: (é duro assumir pública e bloguemente essa terrível situação) somos teúdas e manteúdas tentando penetrar no mundo dos fardões. Pelo menos, a metade da idade a gente já têm...

3ªtentativa: Cadastro Virtual
Descobrimos através da nossa grande aliada - A INTERNET, que poderíamos nos cadastrar em um site que atuava junto a editoras, servindo de intermediário em um processo seletivo para os escritores. Ficávamos expostos como em uma vitrine, com a sinopse do livro e uma parte dele sendo avaliados pelos interessados. Após quinze dias, oito editoras haviam lido parte do livro, e três entraram em contato, solicitando a obra completa. Estávamos nas nuvens. Avaliamos as propostas.
1ª Uma editora que custeava 50% da produção. Não queríamos; a 2ª prometeu mundos e fundos, oferecendo um lugar em uma prateleira virtual, onde, pela bagatela de menos de três reais(sendo que tínhamos direito a 20% desse valor), as pessoas poderiam ler nosso livro pelo computador. Como controlar isso? Enquanto alimentávamos a dúvida, surgiu uma oferta mais tentadora: uma autopublicação, onde pagaríamos um preço razoável pela editoração do livro, e ele seria comercializado pela internet, no site da editora.
E aqui estamos: nosso livro está no forno. Esperamos que ele não seja incinerado...

A Sacerdotisa Yana e o Capitão Rodrigo

Capa do livro "Herança da Paixão", de Shannon Drake
Minha'lma de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver, pois que tu és já toda a minha vida

Não vejo nada assim, enlouquecida
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lida

Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando te digo isso, toda a graça
De tua boca bonita fala em mim, de olhos postos em ti, digo de rastro

Podem voar mundos, mover astros
Que tu és como um deus, princípio e fim."

Florbela Espanca